O Comitê Justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes cobra uma investigação séria sobre o envolvimento de Allan Turnowski, ex-Secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, preso na última sexta-feira (9), com o assassinato da vereadora e o seu motorista em 2018.
O ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro tinha uma relação próxima e de “respeito” com o ex-policial militar Ronnie Lessa – preso como um dos autores do crime -, segundo o Ministério Público do Rio. Turnowski é candidato a deputado federal pelo PL (Partido Liberal) de Jair Bolsonaro, para o qual recebe apoio do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
O Comitê, ligado ao Instituto Marielle Franco, lembra que Allan Turnowski foi nomeado em 2020 para o cargo de secretário da Polícia Civil na gestão de Castro. A organização também reforça que o atual governador do Rio também trocou o delegado do caso Marielle e Anderson, Daniel Rosa, por Moisés Santana.
“Em julho de 2021, as promotoras do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) Simone Sibilio e Letícia Emile relataram diversas interferências externas no caso e pediram exoneração, sem explicar publicamente sobre quais e quem as estariam fazendo”, afirma a nota do Comitê.
Na última sexta, o ex-chefe da Polícia Civil de Castro, foi preso por suspeita de integrar organização criminosa dentro da Polícia Civil que favorecia contraventores do jogo do bicho. Segundo as investigações, ele ainda estaria envolvido em um plano para assassinar o bicheiro Rogério Andrade.
Turnowski deixou o cargo em março deste ano para se candidatar a uma vaga de deputado federal pelo partido de Bolsonaro.
Segundo as recentes investigações do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MPRJ, Allan Turnowski agiria como “agente duplo” e teria uma relação próxima com Ronnie Lessa, a quem Turnowski “respeita pra caramba”. Lessa, que está preso preventivamente acusado de matar Marielle e Anderson, seria informante de Turnowski, que pegava informações sobre Rogério de Andrade e repassava para um grupo rival.
Em sua campanha, Turnowski vinha adotando o discurso de “tolerância zero contra o crime”. Nesse sentido, não apenas defendeu a ação da Polícia Civil na operação no Jacarezinho, em maio de 2021, que deixou 28 mortos, como também utilizou tais mortes como bandeira de campanha. Seu número da urna, 2227, seria uma alusão aos 27 civis mortos na chacina.
Continuaremos lutando por justiça por Marielle e Anderson!
A investigação sobre o caso Marielle expôs uma rede complexa de crimes ligados às milícias e aos próprios aparatos policiais no Rio de Janeiro. Investigação do Ministério Público, informa que a milícia controla atualmente um total de 57,5% do território da cidade do Rio de Janeiro. (leia mais abaixo)
Para o Instituto Marielle Franco, a notícia da prisão de Turnowski levanta diversos questionamentos: qual a relação do ex-secretário de polícia civil Allan com Lessa? O governador do RJ Cláudio Castro estava ciente dessa relação do Turnowski com o suposto assassino de Marielle e suas demais atividades de contravenção?
O Instituto critica que até hoje advogados das famílias de Marielle e Anderson não têm acesso às investigações sobre os mandantes do crime. Além disso, quatro anos e meio depois do assassinato, ainda seguimos sem respostas quem mandou matar Marielle e por quê? Quem interferiu nas investigações?
Para o Instituto Marielle Franco é escandaloso para um Estado Democrático de Direito os questionamentos acima estarem sem respostas até hoje de um crime cometido por organizações criminosas contra à democracia brasileira.
“A falta de respostas sobre quem mandou matar Marielle e por quê a cada dia que passa representa a flagrante omissão do Estado diante desse ataque à nossa democracia e o consentimento do Estado com a violência política de gênero e raça em que pese os diversos compromissos internacionais do Brasil com os direitos humanos. Não há democracia, quando o assassinato de uma vereadora negra eleita legitimamente segue sem respostas a quase cinco anos”, declara a nota.
O Instituto reforça que é imprescindível para a proteção da vida de defensores de direitos humanos que os responsáveis pela investigação policial tenham idoneidade ética para estar à frente dos casos, garantindo um tratamento imparcial e sem favorecimento de interesses privados e escusos.
Crescimento da milícia no RJ
Em 16 anos, as áreas urbanas sob influência de grupos armados, traficantes e milicianos, na região metropolitana do Rio de Janeiro, passaram de 8,7% para 20% do território, aumento de 131% entre os triênios 2006-2008 e 2019-2021.
O domínio da milícia passou de 23,7% para 49,9% dessas áreas no mesmo período, o que corresponde atualmente a 38,8% da população sob influência de grupos armados, contra 22,5% em 2008. Considerando a área total sob influência da milícia, o crescimento no período foi de 387,3%, passando de 52,6 quilômetros quadrados (km²) para 256,28 km², o que corresponde a 10% de toda a área territorial do Grande Rio.
É o que mostra o Mapa dos Grupos Armados, lançado nesta terça (13) pelo Instituto Fogo Cruzado e pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF). Na ferramenta, é possível verificar quais áreas são dominadas por cada grupo criminoso, com a evolução histórica separada por triênio.
Hoje esses grupos são a principal ameaça à segurança pública no Grande Rio, com o grande crescimento apresentado nos últimos cinco anos.