De acordo com a pesquisa Datafolha, 70% da população brasileira acredita que há irregularidades nas contas do governo Bolsonaro. Em julho, esse número estava na mesma faixa: 73% era a parcela populacional que achava haver corrupção na gestão federal. Tais resultados explicitam que o velho argumento populista de combate a corrupção já não convence mais o povo brasileiro, que percebe no discurso anti-corrupção de Bolsonaro apenas hipocrisia.
Nesta sexta-feira (23/09), Demetrius Gomes Cavalcanti, desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, mandou o UOL retirar imediatamente as matérias sobre os 51 imóveis da família Bolsonaro comprados com dinheiro vivo. A reportagem mostra que quase metade do patrimônio em imóveis do presidente Jair Bolsonaro (PL) e familiares foi edificado, nos últimos 30 anos, com dinheiro vivo. Foram compras de R$ 13,5 milhões registradas no cartório com a forma de pagamento “em moeda corrente nacional”. Com a correção do atual IPCA, esse valor equivale a R$ 25,6 milhões.
Em um claro ato de censura, a decisão foi resultado de um pedido do filho do presidente, Flavio Bolsonaro (PL), que tenta descaradamente abafar os casos de corrupção ligados a sua família. Com isso em vista, os Jornalistas Livres te convidam a relembrar os alguns dos principais escândalos e denúncias do governo Bolsonaro, a partir de sua eleição em 2018 até os dias atuais.
Compra de vacinas
Um dos principais casos investigados durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 foi a compra da vacina indiana Covaxin, produzida pelo laboratório Bharat Biotech. Em depoimento, o deputado federal Luis Claudio Fernandes Miranda (DEM-DF) e o irmão Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do ministério da Saúde, revelaram um suposto esquema de fraude na negociação para a compra de 20 milhões de doses do imunizante. A denúncia apontava um envolvimento do próprio Ministério da Saúde e a empresa brasileira Precisa Medicamentos, responsável pela venda da vacina no Brasil.
O deputado afirma que Bolsonaro estava ciente sobre o esquema, visto que os irmãos tiveram um encontro com o presidente no qual foi apresentada a documentação fraudulenta. No dia 20 de março – suposta data da reunião entre os envolvidos – Luis Miranda, publicou em seu perfil no Twitter uma foto ao lado de Bolsonaro. Na legenda, o deputado coloca que ambos tratavam de “assuntos que são importantes para o Brasil”.
Rachadinhas
A prática conhecida como “rachadinha” é o nome popular dado para quando há desvio de salário de assessor – uma transferência de parte ou de todo salário do servidor para o parlamentar ou secretários a partir de um acordo anteriormente estabelecido. Em 2020, Fabrício Queiroz, e ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso em uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público (MP) de São Paulo. Ele era investigado pela participação em rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde o filho de Bolsonaro ocupou uma cadeira por 4 mandatos. De acordo com o MP, Fabrício recebeu R$ 2 milhões em 483 depósitos de assessores ligados a Flávio.
Quando perguntado sobre o caso, Bolsonaro alega que “é uma prática meio comum, concordo contigo. Não é só no Legislativo não, também no Executivo municipal, até de um outro poder também, tá? E em cargo de comissão você pode botar quem entender ali”.
Orçamento secreto
Em 2020, o governo Bolsonaro foi responsável pela criação de um “orçamento secreto”, possibilitando que deputados e senadores façam repasses de verbas públicas sem que haja um destino ou destinatário declarado – tirando a transparência de operações bancárias parlamentares. A aprovação desse sistema também abriu brechas para que, além de emendas parlamentares, candidatos possam retirar dinheiro para suas campanhas eleitorais do orçamento secreto. Com a falta de transparência garantida pela medida, casos de corrupção no governo passaram a ser cada vez mais comuns.
Um exemplo disso é a denúncia de compra de compra de votos parlamentares na eleição de Arthur Lira (PP) para presidente da Câmara dos Deputados. Lira, aliado de Bolsonaro e pertencente ao chamado “centrão”, foi eleito em uma votação fraudada por meio de compra de votos com dinheiro retirado do orçamento secreto. Em entrevista exclusiva ao jornal The Intercept, o deputado federal bolsonarista Waldir Soares de Oliveira (União Brasil) revelou ter recebido uma oferta de R$ 10 milhões em emendas em troca do voto em Lira.
Corrupção no Ministério da Educação
O mais recente caso de irregularidades no governo foi em relação a gestão do ex-ministro da Educação (MEC) e pastor da Igreja Presbiteriana de Santos, Milton Ribeiro. Denúncias revelam que Ribeiro comandou esquema que exigia pagamento de propina para as igrejas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, em troca de contratos de obras federais para construção de escolas. Ailson Souto da Trindade, candidato a deputado estadual pelo Progressista no Pará, informou ao Estadão, que o pagamento deveria ser feito em espécie e que o dinheiro seria escondido na roda de uma caminhonete para ser transportada de Belém (PA) para Goiânia (GO), onde ficam as igrejas.
Gilmar, Arilton e Milton já são investigados pela polícia por conta do “gabinete paralelo” do MEC. O inquérito corre sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), após interferências do Presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro e os pastores chegaram a ser presos durante o processo. Trindade foi o 12ª pessoa a denunciar o esquema de corrupção, prefeitos também confirmaram a necessidade de pagar propina em dinheiro, comprar bíblias e ouro para ter acesso a verbas do ministério.