Apesar de ter sido convidada diretamente por Lula para participar do comício no último dia 20 no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, e de ter recebido afagos do público e do próprio candidato durante o ato, a ex-presidente Dilma Rousseff deve voltar a ser relegada a um espaço político secundário até o fim da campanha das eleições .
Na entrevista ao Jornal Nacional, Lula delimitou as diferenças entre o seu governo e o de sua sucessora, chegou a criticar medidas tomadas por ela e se eximiu de responsabilidades sobre sua gestão. É esse o tom que ele deve adotar daqui por diante quando for confrontado com o desempenho econômico de Dilma.
De acordo com um aliado, o convite para o comício foi uma tentativa de rebater as críticas de que a campanha petista esconde Dilma. Ao levar a ex-presidente, Lula enterraria o argumento ainda no início da campanha e poderia virar a página sobre o assunto.
Não era previsto que a ex-presidente discursasse. Sua fala de improviso foi incentivada por lideranças petistas que também estavam no palanque. Em menos de cinco minutos, Dilma se emocionou com o apoio do público, elogiou o antecessor e disse se orgulhar por ter sido ministra da Casa Civil em seu governo.
O candidato ao Planalto retribuiu e chegou a comparar o impeachment de Dilma com a perseguição a Tiradentes na Inconfidência Mineira, em 1789. Apesar de pelo menos dois apoiadores do afastamento da petista estarem no palco, o vice da chapa presidencial, Geraldo Alckmin (PSB), e o ex-ministro Aloysio Nunes (PSDB), Lula disse que o impeachment foi um “erro histórico do Congresso Nacional”, fruto de uma mentira.
Alguns aliados enxergam salto alto no gesto em favor de Dilma. Segundo essa análise, por sua posição nas pesquisas, Lula se viu à vontade para exaltar a sucessora, mas isso pode lhe trazer desgaste.
A ex-presidente era reprovada por 65% da população pouco antes de deixar o governo em 2016 por causa do impeachment. Em 2018, ao disputar uma vaga no Senado em Minas, amargou um quarto lugar.
Não há planos de levá-la a novos comícios nem ao horário eleitoral. O enfoque da propaganda, que buscará fazer comparações com a situação do país sob o presidente Jair Bolsonaro (PL), serão os números dos anos Lula.
Na campanha, o petista costuma exaltar feitos de sua gestão e ignorar o período Dilma. Nas diretrizes para o programa de governo, ela só é citada quando o texto diz que os “governos Lula e Dilma” investiram na Saúde. O documento não traz a palavra “golpe”, que aparecia 13 vezes em 2018.