A Floresta Amazônica costuma frequentar o imaginário popular através de imagens de matas densas, formadas por altas e imponentes árvores de tronco roliço e valioso. Mas os mais de cinco milhões de quilômetros quadrados que a Amazônia ocupa no continente sul-americano são, na verdade, compostos por ecossistemas diversos e incrivelmente variados.
Foi pensando nessa complexidade do bioma (unidade biológica ou espaço geográfico definido por critérios ecológicos como macro-clima, solo e altitude média) que instituiu-se, no Brasil, o Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro. Criada em 2008, a data chama a atenção para a necessidade de proteger o bioma, que também está presente no Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Suriname, Equador e Guianas.
Neste Dia da Amazônia, a National Geographic detalha alguns dos ecossistemas que compõem a maior floresta tropical do mundo.
A Amazônia não é uma floresta homogênea
“A Amazônia, na verdade, é um conjunto de vários ecossistemas distintos que interagem entre si e fazem parte de uma unidade maior que é chamada de bioma”, diz Pedro Viana, pesquisador, botânico e coordenador de botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará.
O bioma amazônico abriga uma diversidade impressionante de seres vivos, que habitam os mais diversos ambientes. “Alguns nem aparecem no imaginário das pessoas quando se pensa na Amazônia, porque elas pensam mais em uma floresta úmida sempre verde”, diz Viana. Apesar da floresta verde estar presente, o bioma conta ainda com savanas, montanhas e ecossistemas costeiros. “O mapa de distribuição de ambientes na Amazônia é uma coisa super complexa. Um mosaico todo entremeado.”
No geral, de acordo com Viana, é possível separar a Amazônia em seis ecossistemas principais: florestas de terra firme, de igapó, de várzea, savanas, refúgios de montanhas e manguezais.
Ecossistemas da Amazônia: floresta de terra firme
Um dos principais fatores que determinam os tipos de florestas na Amazônia, de acordo com Viana, é a relação da vegetação com os períodos de secas e cheias dos rios. “Nesse sentido, as florestas de terra firme, que são as mais conhecidas quando falamos de Amazônia, são as que não são inundadas nunca”, diz Viana.
As matas de terra firme ocorrem nas regiões do bioma cujo relevo é mais alto e ficam longe das águas dos rios mesmo durante a estação chuvosa. Elessandra Nogueira Lopes, professora da Universidade Federal do Pará especialista em manejo e conservação do solo, explica que, justamente por isso, as características desse ecossistemas são marcadas por um solo profundo, relativamente pobre em nutrientes, mas com enorme quantidade e diversidade de árvores de grande porte.
“As matas de terra firme são a maior parte da floresta e é onde encontramos as árvores gigantescas que normalmente relacionamos com a Amazônia”, diz Lopes.
As alturas das árvores desse ecossistema oscilam entre 30 e 60 metros, segundo Lopes, desenvolvendo-se com distâncias restritas entre si, o que dificulta a inserção de luz até o chão por causa da proximidade das copas. Isso dificulta o desenvolvimento de outras espécies de plantas de menor porte por não conseguirem realizar a fotossíntese.
Também segundo Lopes, entre exemplos de espécies de árvores encontradas em florestas de terra firme estão as castanheiras, fonte da famosa castanha-do-pará brasileira, além de mogno e cedro, que têm valor comercial alto. Já em relação a fauna, a região tem uma das maiores biodiversidades dentro da Amazônia, abrigando uma enorme variedade de insetos, cobras, anfíbios e mamíferos.
Ecossistemas da Amazônia: floresta de várzea
As florestas de várzea são matas inundadasapenas durante uma certa época do ano. “Na maioria das florestas de várzea a inundação ocorre nos meses de março e setembro devido ao aumento da pluviosidade nessa época, o que influencia na alta dos níveis dos rios”, explica Lopes.
As regiões das várzeas podem ficar embaixo d’água por vários meses e são associadas a rios de águas brancas – aqueles que, segundo explica Viana, carregam muitos sedimentos (terra, pedaços de vegetação). Trazem também nutrientes provenientes do desgaste das regiões dos planaltos de altitude dos Andes, que dão um aspecto barrento às águas.
“Na Amazônia, as florestas de várzea ocorrem ao longo de rios e planícies inundáveis. Por exemplo, as regiões próximas aos rios Amazonas e Japurá, que são cursos de água branca”, afirma Viana.
O ecossistema de várzea se divide ainda em mais duas classificações: várzea alta e várzea baixa. A várzea alta acompanha as margens dos rios, possui solos férteis e sua formação é densa e muito fechada, com árvores de 20 metros de altura em média. “Ela é menos diversa quando comparada à mata de terra firme já que as espécies precisam de mecanismos que aguentem o ritmo sazonal de inundação, mas ainda há uma grande diversidade de vegetação e fauna”, diz Lopes.
Na várzea alta, são comuns espécies de árvores como a sumaúma e a andiroba, animais arbóreos como as preguiças-de-três-dedos e uma ampla gama de animais aquáticos, como o jacaré-açu. Além deles, mamíferos também fazem da várzea sua casa, entre eles as onças-pintadas, que desenvolveram um modo de vida único para se adaptar ao ritmo dos rios.
Já a várzea baixa, segundo Lopes, ocorre em áreas onde a água fica represada após a cheia dos rios e pode permanecer alagada por mais da metade do ano. Exemplos de algumas espécies vegetais que ocorrem em várzea baixa são o buriti (Mauritia flexuosa) e o açaizeiro (Euterpe oleracea).