Nessa terça-feira (24), a Câmara dos Deputados deve votar um projeto para limitar a 17% a alíquota do ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes coletivos. Em novo embate, medida opõe União e governadores, que temem perda bilionária em arrecadação.
Com a disparada dos preços de energia e combustível, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) entrou na mira do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional – e abriu mais uma batalha com os governadores dos estados.
Desde o ano passado, o presidente Jair Bolsonaro e os governos estaduais vêm travando um debate público sobre a cobrança do ICMS. Pressionado por uma inflação de dois dígitos e mirando a sua reeleição, Bolsonaro já disse repetidas vezes que a cobrança do tributo dificulta uma queda no valor da energia elétrica e dos combustíveis, embora o imposto represente apenas uma parte do preço pago pelo consumidor.
São duas as batalhas travadas (leia mais abaixo na reportagem as explicações completas):
1. Limitação da alíquota do ICMS
- tramita na Câmara
- como é hoje: cada estado define um percentual para a cobrança
- o que o projeto pretende: estabelecer um ‘teto’ de 17% para o tributo para itens considerados essenciais, como combustíveis e energia elétrica
2. Alíquota única para o diesel
- em disputa no STF
- como era: cada estado definia sua alíquota, um percentual sobre o valor do litro
- como é hoje: uma lei sancionada em março e que passa a valer em julho estabeleceu que a alíquota deve ser a mesma para todos os estados, e cobrada em reais por litro.
- o que os estados fizeram: cada estado, no entanto, definiu um valor de desconto sobre essa alíquota – que, na prática, faz com que o valor continue o mesmo de antes da lei.
- o que o STF decidiu: uma decisão liminar a pedido do governo Bolsonaro proibiu os estados de aplicarem descontos.
- o que acontece agora: os estados devem recorrer para derrubar a liminar.
Alíquota limitada
Nesta terça-feira (24), em mais um capítulo dessa disputa, a Câmara dos Deputados pode votar um projeto que tem o aval da União e pretende limitar a 17% a alíquota do ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes coletivos.
Pelo texto, esses itens passam a ser classificados como essenciais e indispensáveis, o que afasta, portanto, as alíquotas mais elevadas do ICMS.
Hoje, cada estado define a sua própria alíquota. No caso dos combustíveis, por exemplo, ela varia de 23% a 34% para gasolina comum, segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis). No diesel S-10, o mais utilizado no país, vai de 12% a 25%.
O impacto nos preços
Segundo Vilma Pinto, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), o corte no ICMS teria potencial para reduzir os preços ao consumidor final, mas nada garantiria que esses valores não voltariam a subir.
No caso dos combustíveis, os preços são influenciados pela cotação do dólar e do barril do petróleo no mercado internacional. Já o valor da conta de luz depende das condições hídricas, dos custos dos subsídios e de uma série de fatores que impactam os reajustes anuais, como a variação da inflação no país, o câmbio e o valor do gás, que abastece as termelétricas. (Leia mais ao fim da reportagem como esses preços são formados)
A importância do ICMS
O ICMS é o principal tributo arrecadatório dos estados. Por esse motivo, os governadores dizem que qualquer mudança na alíquota traria prejuízos bilionários não apenas aos cofres estaduais, mas também aos municipais, já que 25% da receita do imposto é destinada às prefeituras.
Numa projeção inicial, o Comsefaz (Comitê Nacional de Secretários da Fazenda dos Estados e Distrito Federal) estima um impacto anual negativo de R$ 100 bilhões no caixa dos governadores se o projeto em discussão na Câmara for aprovado.
Hoje, os analistas dizem que os estados até têm uma certa margem de manobra para absorver alguma perda de arrecadação, mas há uma preocupação com o médio e longo prazos.