Jair Bolsonaro depois da derrota nas urnas tem discutido com aliados seu futuro fora da Presidência da República a partir de 2023. Pela primeira vez em 34 anos, não estará à frente de um mandato político, mas, apesar disso, não ficará sem função. Terá um cargo no PL e pretende viajar pelo país já de olho na disputa do Palácio do Planalto em 2026. Antes, deve ajudar a eleger aliados nas eleições municipais de 2024.
Embora seja o primeiro presidente a não conseguir se reeleger, Bolsonaro deixará o cargo com um capital que representa quase metade do eleitorado do país — ele teve 49,1% dos votos contra 50,9% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente eleito. Também contará com uma tropa aliada de pelo menos cem parlamentares no Congresso, que surfaram na onda do bolsonarismo para se eleger.
— Não foi Lula que ganhou, foi Bolsonaro que perdeu. Agora, ele também não é apenas uma oposição, é líder de uma massa. Ele vai andar o país, porque sabe que é o maior líder de direita que este país já teve. Além disso, com seu capital político, vai conseguir que seus aliados no Congresso pressionem o governo Lula — disse o pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e amigo do presidente.
A intenção do dirigente do PL é aproveitar o capital político de Bolsonaro para ampliar o número de prefeituras do partido. Em 2020, quando ainda não tinha o atual presidente em suas fileiras, a legenda elegeu 345 prefeitos, apenas a sexta maior quantia entre as demais siglas, e sem nenhuma capital na lista. Agora, com a maior bancada na Câmara, a expectativa é que conquiste cidades importantes em 2024. Em 2020, no entanto, a atuação de Bolsonaro nas disputas por prefeituras frustrou alguns aliados. Sem partido à época, o presidente se empenhou em campanhas que naufragaram nas urnas — casos de Marcelo Crivella (Rio), Celso Russomano (São Paulo), Bruno Engler (Belo Horizonte) e Capitão Wagner (Fortaleza).
— Será nas eleições municipais que teremos condições de dar capilaridade ao que a gente acredita, com prefeitos e vereadores — diz o deputado federal reeleito Filipe Barros (PL-PR).
O histórico de Bolsonaro, porém, faz com que até mesmo aliados desconfiem de que aliança com o PL tenha vida longa. O atual presidente está em seu nono partido e, após se eleger em 2018 pelo PSL (atual União Brasil, após fusão com o DEM), rompeu com a sigla. Saiu do partido brigado com o presidente Luciano Bivar, levando consigo aliados e deixando para trás o maior fundo partidário e eleitoral. Para um aliado próximo, no primeiro sinal de aproximação do PL com o governo Lula, Bolsonaro poderá romper.
Como mostrou a colunista Bela Megale, do GLOBO, o silêncio e o isolamento mantidos por Bolsonaro desde sua derrota nas urnas também passaram a ser duramente criticados por integrantes da ala política do governo e membros da cúpula do PL. É consenso que “já passou da hora” de o presidente “lamber as feridas” e que ele precisa trabalhar para seguir como principal figura de oposição a Lula.
A avaliação desse grupo é que, se Bolsonaro não se movimentar logo, pode cair no ostracismo e perder boa parte do apoio que capitalizou. A decisão de não ir ao G20, na Indonésia, foi considerada um erro por aliados de primeira ordem de dentro e fora do governo. Para eles, Bolsonaro deveria ter usado sua última agenda internacional como chefe do Executivo para se contrapor a Lula, que nesta semana participa da COP27, no Egito.
Segundo pessoas próximas, Bolsonaro também não tem interesse em criar um instituto com o seu nome, a exemplo do que fizeram Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A sugestão chegou a ser feita por um auxiliar, mas o atual presidente a rechaçou imediatamente. Nas palavras de um assessor, Bolsonaro “não gosta de burocracias” e deve seguir o estilo improvisado que adotou até mesmo no comando do Executivo.
Fonte: Mais Goiás